Ela estava escutando uma música e se deu conta de que todas as besteiras que já fez foram e são as melhores lembranças. Um outro alguém já disse que isso não é verdade. Mas ela sabe que pior do que não aceitar isso é acreditar que isso é mais uma simples besteira.
Sabe... Essa garota sou eu, e quais são as lembranças que de fato mais vem em nossas memórias? Diz se não aquelas mais bestas e mais idiotas ?!
Quando se trata de amor, buscamos na memória as lembranças do nosso primeiro amor (se é que podemos mesmo chamar de amor) e lembramos daquele primeiro garoto em que pela primeira vez sentimos o coração bater mais forte e a barriga virar céu de borboletas. Então lembramos do primeiro bilhetinho que mandamos ou recebemos e junto com ele lembramos do beijinho no rosto que te faz sentir a garota mais feliz do colégio, até que o tal primeiro garoto apezar do tal beijinho não corresponde ao que você acredita ser amor e você finalmente o esquece. Daí então você cresce e conhece um carinha mais velho que te arranca suspiros e um beijo de verdade com uma cantada barata. Você conhece aos poucos os homens ou então cai de vez na lábia deles e ponto, sofre, chora, se arrepende, briga com seus melhores amigos e assim por diante. É claro que as lembranças não ficam só nas experiências com os homens, o fato é que as histórias vividas com eles uma hora se tornam engraçadas, bestas e idiotas.
Há também aquelas lembranças de como ficamos com medo quando falsificamos o RG para entrar "naquela" primeira balada e também quando seus pai descobrem que você andou fumando no banheiro dos fundos. ´Tem aquela de quando você e seu irmão ficaram desesperados com um baldinho na mão porque brincavam com fogo e sem querer deixaram o pano de prato, a toalha de mesa ou a cortinha queimar. E auqela vez quando seus pais viajaram e vocês fizeram uma festinha em que seu amigo bebeu demais, acabou com a sua casa e ainda foi parar no hospitals, fazendo com seus pais soubessem de tudo no dia seguinte, cortando o que você chamava de mesada; ou quando você resolveu fazer um protesto na frente de uma igreja com seus amigos e fugiram do pastor e da polícia, remando rua abaixo de skate; E claro, sem esquecer de quando você aprendeu a dirigir e resolveu pegar o carro da sua mãe escondida pra dar uma voltinha no quarteirão.
De lembrança em lembrança, você percebe que já cresceu e sabe que a vida não teria histórias e nem graça se não houvesse essas besteiras da infância ou adolescência.
Quando a gente cresce, não podemos mais chamar os erros de besteiras, fica complicado errar, fica complicado não pensar e simplesmente deixar acontecer, pois sabemos que qualquer "besteirinha" que seja irá nos acompanhar, digo isso pois, tenho uma lembrança ruím que não sei se algum dia irei esquecer, não foi exatamente ruím, mas foi egoísta me fazendo peder um momento que poderia ser agradável e feliz.
Certa vez fui egoísta por pensar só em mim, não dei um abraço em minha avó enquanto ela estava bem, enquanto ela frequentava minha casa, e um dia ela foi pro hospital e não voltou. Doeu não poder mais abraçá-la, dizer que eu amava a macarronada que ela fazia aos domingos e que adorava dormir ouvindo as histórias que ela contava sobre a minha mãe, eu adorava a cama dela, eu adorava a voz dela, eu adorava ir à igreja com ela, eu adorava o abraço e o colo fofo que ela tinha. Escrevo tudo isso porque sei que o erro não podia se reptir outra vez.
Em uma das minhas últimas viagens de fim de ano, revi meu avô que está doente à alguns anos, fraquinho e bem velhinho ele disse: "Deus abençõe" quando eu dei bença à ele. Demorou dois dias para ele me reconhecer, dei-lhe então um abraço e disse de quem eu era filha e ele disse que eu estava mudada, que eu estava mais bonita e mais magra, ele me disse que perdeu um pouco da visão e sempre confunde as pessoas. Passei 15 dias na casa dele, conversamos bastante e eu ria com as histórias que ele me contava sobre quando meu pai era criança. Na noite em que eu estava indo embora chovia muito e debaixo das goteiras do telhado velho da casa, ele ficou acordado até a chuva passar, me deu um abraço e foi deitar. Foi a melhor viagem que já fiz.
A semana passada recebi a notícia de que ele estava no hospital à alguns dias e não passava bem, meu pai tentou passagem para ver ele e não conseguiu, os médicos disseram que já não havia mais o que fazer e agora com quatro tumores espalhados por seu corpo o que há é esperar. A vida aqui em São Paulo é uma correria e apezar de estar longe, sabemos que a qualquer hora, qualquer momento, vamos correr pra revê-lo nem que seja a última vez.
Disto tudo, tirei uma lição enorme que me deixa em paz, sabendo que quando ele partir não me arrependerei denovo, pois à pouco eu o abracei, eu o aproveitei, eu o agradei e não fiz isso porque ele estava doente ou porque está velhinho, fiz porque aprendi que o amanhã pode não chegar e que com ele, as pessoas amadas podem não voltar.